Depois de algumas semanas de interregno, voltamos com o Nuno Henriques, atual Treinador do quase centenário CACO. O tema colocado pelo Pedro Gonçalves foi …
“Ser e parecer: a imagem do Treinador”
É com enorme satisfação que congratulo o Pedro Gonçalves e a Associação de Patinagem de Lisboa pela iniciativa tomada e que em muito contribui para a evolução e aprendizagem entre os amantes do Hóquei em Patins, partilhando diversas experiências com os Treinadores. Sinto-me lisonjeado e agradecido pelo convite que foi feito para a abordagem desta temática.
“Numa era de redes sociais em que as pessoas cada vez dão mais importância à imagem que passam, é importante os treinadores fazerem o mesmo?” (Pedro Gonçalves) – iniciando a minha opinião relativamente a um paradigma que apenas para um grupo de poucos treinadores é alvo de reflexão, considero que cada um adopta a sua própria abordagem com base em valores.
Eu próprio o fiz, talvez há cerca de 8 anos. Fazendo parte duma (ainda) minoria não utilizadora de redes sociais, cujo propósito entendo apenas ser a procura de uma maior aprovação pela comunidade ou o de tomar conhecimento daquilo que esta publica, compreendo que todas as nossas acções e, especialmente, as alterações ao tipo-padrão de uma determinada classe social, levam sempre a questões de aceitação.
Ao procurarmos criar uma “imagem de marca” corremos o risco de ir de moda em moda e de não reflectir aquilo que realmente defendemos. E se a moda ditar, por exemplo, deixar crescer a barba e usar uma sweatshirt com calças de ganga largas, até acreditamos momentaneamente que esse será o caminho a seguir. Eu considero que é uma ilusão e que fazemos isso apenas com o intuito de sermos aceites ou aprovados pelos outros. Julgo que cada treinador deverá pensar na melhor forma de se apresentar, tendo em conta a sua integridade naquele que é o contexto do seu compromisso profissional. É importante os treinadores passarem na SUA imagem a sua individualidade.
Eu tomei a liberdade de trocar o fato de treino, a t-shirt/polo e os ténis, pela camisa, a gravata, as calças e os sapatos clássicos. Foi uma decisão reflectida e ponderada, consciente de que poderia causar aprovação de uns e discordância de outros. Não frequentando as redes sociais, ignoro o que ganho ou perco com mais ou menos “likes” quanto à minha imagem como Treinador.
Acreditei sempre que o nosso Hóquei poderia ser mais profissional e, eu, no papel de Treinador, senti que poderia arriscar dar o (um) exemplo, à semelhança do que fazem outros profissionais como os treinadores da NBA (liga norte-americana de basquetebol profissional) ou da NHL (liga norte-americana de hóquei no gelo profissional). Tal como as equipas têm o seu equipamento nos seus treinos durante a semana, e o equipamento oficial de jogo ao fim-de-semana, porque não o treinador também assumir essa gestão da sua indumentária? Respeitando a escolha e a preferência na forma de cada treinador se apresentar, ora menos formal com o seu fato treino habitual, ora mais casual com calças de ganga e camisa, desacredito que a braçadeira de treinador, só por si, lhe confira a sua individualidade ou uma imagem de excelência.
Poderá existir ainda o “dress code” do próprio clube. Nunca, até hoje, tive qualquer restrição em relação às minhas escolhas. Sempre trabalhei com pessoas com visão de futuro e sentido de crescimento e de aprendizagem. Tal aceitação e motivação se deve também à boa relação que tenho tido com todas as direcções e restante staff. Se, porventura, estiver num clube com directrizes próprias, estarei, claramente, alinhado com os restantes, nunca negligenciando esta tentativa de elevar pequenos detalhes a uma escala maior.
Se o hóquei caminha cada vez mais, e em grande velocidade, para a especificação de processos e análises, não será este tema também alvo de melhoria junto da nossa comunidade? O jogo e a competição são o auge de qualquer preparação semanal. Assim sendo, e se estamos munidos dos nossos quadros tácticos, do marcador, da braçadeira, do apoio estatístico e do staff específico, porque não apresentarmo-nos também de forma assumida e séria através da nossa imagem?
A diferença entre auto-estima e auto-confiança é a forma como pensamos e agimos o/no momento! Se a nossa imagem contribuir para alguma destas premissas, então é porque acreditamos e estamos convictos de que a mudança é para melhor. E estas premissas, quer queiramos quer não, influenciam as nossas tomadas de decisão. Não nos dão garantias de nada, não facilitam a escolha daquilo que é certo e adequado e muito menos garantem vitórias.
Pessoalmente sinto que esta escolha me permite “respirar hóquei” num sentido mais abrangente e mais profissional, contribuindo para que os outros percebam que também na imagem somos diferentes e procuramos chegar à elite em todos os aspectos.
Se, para mim, a forma como me apresento me dá uma lufada de confiança e de motivação, para outros poderá ser limitador. Recordo, com orgulho, contudo, quando ao chegar ao pavilhão, em dia de jogo, fui surpreendido por toda a minha equipa com a mesma indumentária, vestidos a rigor. Escolha que se manteve nos seguintes jogos. Uma vez mais, se para alguns tal iniciativa foi motivo de crítica, no balneário esta deu origem a um espírito colectivo e de entrega pelo outro, aumentando os índices de superação e em que o resultado foi a união e amizade que se desenvolveu entre todos.
Termino com uma palavra que tem sido importante desde que entrei no hóquei: crescimento. Ao estarmos dispostos a nunca aceitar a total sabedoria, preparamo-nos para evoluir e para crescer mediante cada adversidade. A imagem do treinador é o próprio que a constrói, desde a mais simples peça de roupa à sua postura e à forma como interage e se apresenta em treino e em jogo.
Resta-nos alargar horizontes e perceber como e com o que é que queremos contribuir para o Hóquei em Patins.
Nuno Henriques
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